O reconhecimento do papel essencial da diversidade no exercício de suas profissões em Mato Grosso do Sul foi o motivo da sessão solene que reuniu no Plenário Júlio Maia o público LGBTQIAPN+ nesta noite de terça-feira (1º). O evento celebrou as trajetórias que transformam histórias e constroem o futuro para a promoção da cidadania e inclusão nos locais de trabalho. Proposta pelo deputado e 2º secretário da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul (ALEMS), Pedro Kemp (PT), a solenidade reforça a luta contra o preconceito, a violência e a discriminação, em alusão ao orgulho LGBTQIA+ e iniciou com a apresentação do multiartista Bèget de Lucena, que interpretou as músicas Balada de Gisberta, uma composição de Pedro Abrunhosa e Sussuarana, composta por Hekel Tavares e Luiz Peixoto.
O deputado Pedro Kemp ressaltou o motivo da celebração e homenagem. “Hoje nos reunimos para celebrar, reconhecer e honrar a coragem e a resistência, e as contribuições das pessoas LGBTQIA+ em nossa sociedade. Homenageamos hoje pessoas que enfrentaram preconceito, exclusão e até violência, mas que, mesmo assim, ergueram a voz e ocuparam espaços com dignidade, que com suas atividades profissionais, não apenas desempenharam suas funções com excelência, mas também transformam ambientes, quebram barreiras e inspiram futuras gerações a serem autênticas, cada um deles está pavimentando um caminho mais justo para quem virá depois”, considerou.
“Também lembramos aqueles que não estão mais entre nós, sua memória nos faz continuar lutando. Essa noite não é só sobre lembrar das dificuldades e sim lembrar as vitórias, cada avanço na legislação, cada pensamento que muda, cada espaço conquistado, é fruto do trabalho incansável de aliados e ativistas que escolheram viver sua autenticidade. A diversidade é nossa maior força. A luta pela equidade e dignidade das pessoas deve ser compromisso de todos”, concluiu o proponente da sessão solene.
O secretário-executivo de Direitos Humanos (SEDH), Bem-Hur destacou a importância de estar no evento pioneiro na Assembleia Legislativa. “Que bom fazer parte de uma mesa e ver militantes históricos, e ainda ver experiência e renovação, dá um alento. Virei avô, a vontade de viver é maior agora. É muito bom ter na mesa os vereadores Franklin e Jean, imaginem como se alegra o coração desse doce militante, que a gente possa convencer a todos que nós defendemos o amor. Parabéns aos homenageados”, enfatizou.
Homenageados
Foram homenageados Bel Silva, Claudia Rosa de Assunpçao Pompeu, Cláudio Eduardo Soares Braga, Cleberson da Silva Alves, Cleide Martins Queiroz, Cris Stefanny, Diogenes Egidio Cariaga, Gabrielly Antonietta Lima da Silva, Gilberto Artero Ramos Filho, Giulia Rita Barbosa Scorsin, Guilherme Costa Garcia Tommaselli, Guilherme Rodrigues Passamani, Jéssica Alves de Assis, Luan Henrique da Silva Souza, Marco Aurélio de Almeida Soares, Marina Cangussu de Melo, Mateus Augusto Sutana e Silva, Róger Taveira Ribeiro da Silva, Pamella Yule, Samantha Terena e Vagner Campos
Gabrielly Antonietta Lima da Silva Gabrielly falou sobre a luta incessante e contínua. “Eu luto para existir com todas as cores onde cada indivíduo possa existir. Mulher cis branca reconheço os privilégios que me são conferidos e me sinto na responsabilidade de ampliar vozes. No serviço público temos o poder de construir políticas que acolham as pessoas. A psicologia tem me ensinado a valorizar a singularidade de cada ser humano e a ferramenta para combater o preconceito”, ressaltou.
Giulia Rita Barbosa Scorsin falou sobre a diversidade no ambiente laboral. “Sou travesti, médica, formada pela UFMS TL e atuo no SUS, universalidade, integridade, sistema que insiste e sobreviver a garantir o mínimo de cuidado a população. Um sistema que preza pela saúde de todos, um mundo que pauta o acesso pelo trabalho e renda, a falta de trabalho é uma sentença de morte. Brasil é o que mais mata travestis no mundo e no mundo do trabalho acontece dentro da repartição pública. Eu terei orgulho quando tivermos todas acesso a moradia, a dignidade”, ressaltou.
Guilherme Rodrigues Passamani é professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), antropólogo há 16 anos. “Sou um homem gay assumido e orgulhoso de quem sou. Trago comigo uma trajetória que começou no corredor de uma universidade do Rio Grande do Sul, conversando com um professor ele me chama para me dar um conselho, não escreva sobre homossexualidade, isso vai manchar seu currículo. Trago esse tema novamente hoje, se houve alguma mancha foi na lente de quem não reconheceu, pois falar nisso é falar de direitos humanos”, considerou.
Luan Henrique da Silva Souza lembrou que muitos vivem a margem da sociedade. “Muitos de nós vivem com medo das perguntas e do constrangimento, isso se reflete com força no mercado de trabalho, a transfobia existente durante um processo seletivo, a falta de preparo dos funcionário da Saúde, por isso tenho me dedicado a pensar em projetos para que sejam construídos ambientes respeitosos para as pessoas trans, pois viver com dignidade não é um direito, é um privilégio”, enfatizou.
Lei
Há vinte anos a Lei 3.157/2005, de autoria do deputado Pedro Kemp foi sancionada . A norma vigente dispõe sobre as medidas de combate à discriminação devido à orientação sexual no âmbito do Estado de Mato Grosso do Sul. E a iniciativa foi porta de entrada para que outras leis e decretos inibissem o preconceito e a violência contra os LGBTQIAPN+.
A iniciativa datada foi um apelo para combater todos os tipos de abusos, inclusive de autoridades públicas. E uma das percursoras do movimento foi a homenageada Cris Stefanny do núcleo de Direitos Humanos da População LGBTQIA+, e também homenageada falou sobre a importância da lei. “Na verdade, a lei foi implementada bem antes do Supremo tomar a decisão de igualar o crime de LGBTfobia ao de racismo. Então, Mato Grosso do Sul, apesar de alguns retrocessos, de ainda ser o 12 estado com maior índice de violência contra a população LGBT, também é o Estado que mais avança em questão de legislações e atuação no combate a LGBTfobia. Em relação à homenagem de hoje, eu acredito que toda a forma de reconhecimento é uma maneira de enaltecer os corpos que são dioturnamente violentados, principalmente as pessoas travestis e transsexuais que ainda vivem em sua maioria no mundo da prostituição como único meio de sobrevivência, fora isso o Brasil configura pelo 16º ano consecutivo como o País que mais mata pessoas trans no mundo”, desabafou a ativista.
Participaram da solenidade o vereador Jean Ferreira, a defensora pública Thaísa Raquel Medeiros de Albuquerque Defande, coordenadora do Núcleo Institucional de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos (Nudeh), da Defensoria Pública do Estado de Mato Grosso do Sul (DPE/MS), a defensora pública Neyla Ferreira Mendes, presidente do Conselho Estadual de Direitos Humanos, deputada Gleice Jane, o vereador Franklin Schmalz (PT), entre outras autoridades.